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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

20 Anos Depois



20 Anos Depois

Hoje foi para mim um dia de enorme alegria. São necessárias de vez em quando, para balanço e equilíbrio do tempo em que a tristeza voraz proveniente das retortas e alquimias degenerativas, não deixa espaço nem vontade, de olhar sequer, a obra dos homens.
Há aproximadamente uns 20 anos, quando a Engenharia do Exército, em articulação com a Câmara Municipal de Mértola, refizeram em terra batida a estrada que liga Amendoeira da Serra ao Pulo do Lobo, observei e senti que, a obra tinha ficado pela metade.
Não me esqueço, havia muitos sectores com enorme carência, para os quais esperavam ávidas as populações, de uma intervenção que lhes alizasse as rochas das ruas, lhes dessem acesso a água, ou ainda naquele tempo, uma miragem como as redes de saneamento.
Seria um abuso, uma ousadia sem ponderação, pensar-se que a edilidade viesse a esvair fundos, num asfalte de luxo, para servir prazeres de turistas e até devaneios de alguns grupos de visitantes, que não percebiam que outras fomes esperavam atendimento.
Mesmo assim, atrevi-me a comentar o tema da estrada percorrida, junto do departamento de obras da Câmara, cujo titular na altura, em virtude de uma amizade ancestral que ainda dura, me permitia proximidade, confiança e aceitação de opiniões, que em alguns casos resultaram transformadas em obras de grande utilidade pública.
Perguntei-lhe então se não teria sido mais rentável, já que se estava com a mão na massa, asfaltar a estrada, uma vez que, pelos meus cálculos, e por não ter a suste-la mais do que a terra que lhe dava a figura, ela estaria com o passar-lhe por cima duas ou três invernadas, desfeita, a precisar de outra intervenção semelhante.
O argumento de resposta centrou-se na perspectiva estética. Uma tira de asfalto negro, num percurso que se queria o mais selvagem que pudesse ser, não era visualmente aceitável, e eu remeti-me para a minha missão de achador de causas e seus efeitos. Desta vez, para além do prazer de partilhar e serem as opiniões ouvidas, nada mais foi possível obter.
Eu tinha realizado uma série de viagens ao mundo rural francês, havia pouco tempo e em circunstâncias de trabalho. E o que me levou a fazer tal abordagem acerca da rentabilidade do asfalto, foi o facto de ter observado nessas viagens, que as estradas e caminhos rurais tinham merecido esse tratamento por toda a França. Dir-se-á que imitações do que vem de fora, nos pode fazer perder autenticidade, mas um pecado português enorme, é ser pouco inventivo e quando copia é tarde e a más horas.
Mas nem sempre assim é. Hoje, ao deslocar-me ao Pulo do Lobo, em mais uma das constantes missões de observação documental do território, surpreendeu-me a visão do inédito, por não ter até este instante interceptado qualquer informação sobre o fantástico melhoramento desta importante infra-estrutura. Um autêntico prazer, a facilidade com que cheguei àquele destino de atracções, àquele Cartaz do Município feito de água, de ar e de rochas. E cheguei, com uma poupança incrível de suspensões, pneus e combustível. Para não falar do tempo de caminho, porque cada um pode levar o que quiser, mas que, sem esperar se me reduziu para menos de metade. Lá estava no início o asfalto que visualizei há 20 anos, como se de um sonho conseguido eu tivesse despertado.
Há que ponderar sem demoras, sobre a ferramenta do turismo se tornar aqui a primeira alavanca do desenvolvimento. Com tantos queixumes generalizados sobre a insuficiência da agro-pecuária, com um comércio frágil, dedicado a servir apenas consumos domésticos, é momento de fazer valer sem demora, a sua Natureza Imponente e o seu infindável potencial de Cultura, como índice da Bolsa de Valores de Mértola. Isto é para levar a sério. Tão sério como a necessidade de se reformularem os conceitos, e reeducar massivamente as populações na perspectiva da postura do acolhimento e acerca dos benefícios que seguramente resultarão do exercício de serviços de excelência para um Turismo de Altíssima Qualidade. Aqui está este farnel de ideias para o ajudar...
Parabéns pela obra realizada, de profundo e sentido manifesto.
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Mértola, 18 de Janeiro de 2010
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