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sábado, 11 de setembro de 2010

Manoel de Oliveira - Paineis de S. Vicente No Festival de Veneza.



Realizador português mostrou a sua nova curta-metragem sobre a enigmática obra do século XV na secção paralela Horizontes
Com o filme Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética, uma curta-metragem de 16 minutos, encomenda da Fundação de Serralves, que mostrou na secção paralela Horizontes do Festival de Veneza, Manoel de Oliveira faz uma reflexão sobre esta enigmática obra do século XV exposta no Museu Nacional de Arte Antiga.
"A duração não é importante nos filmes. O importante é o argumento. Já cheguei a fazer filmes com mais de quatro horas, como Le Soulier de Satin. Nesta curta- -metragem, que não é um documentário, dei importância à interpretação dos Painéis, encontrando inspiração na actual crise mundial e na crescente desumaniza- ção em que vivemos", declarou Oliveira ao DN.
Para Manoel de Oliveira, que foi aplaudido durante mais de dez minutos antes da projecção, e apresentado por Marco Müller, o director do certame, "o grande mistério destes Painéis reside em não se saber ao certo quem são as personagens nele representadas, porque, se algumas são reconhecíveis, muitas outras não o são".
São Vicente, interpretado por Ricardo Trepa, e o infante D. Henrique, por Diogo Dória, "partilham de um mesmo desejo de justiça, fraternidade e paz entre os povos, fora de questões relacionadas com raça e religião".
Segundo Oliveira, "os Painéis de São Vicente foram desde sempre reconhecidos como a mais importante representação da sociedade portuguesa da época, quando os navegadores portugueses viajavam pelos oceanos dos cinco continentes, desbravando o planeta e dando a conhecer novos lugares e povos".
"Os Descobrimentos, iniciados por Portugal, permitiram um conhecimento mais completo do mundo, que é a casa de todos nós mas que então permanecia ainda uma incógnita para a humanidade que o habitava", frisou o realizador. "O homem sempre fez tudo para conhecer e dominar o mundo e os seus semelhantes. Mas somente os animais não têm a perversidade da humanidade". E acrescentou, numa nota do seu conhecido pessimismo. "O Velho do Restelo não era pessimista, apenas previu o futuro."
Referindo-se à cena em que as figuras dos Painéis de São Vicente surgem fora do quadro, disse Oliveira: "Hoje talvez seja possível para as personagens conseguirem sair dos Painéis. Mas não há nada de novo no cinema."